Nucléo de Arte
   
 

A Associação Núcleo de Arte é a associação de artistas mais antiga de Moçambique. Estabelecida numa antiga casa no centro de Maputo, o Centro desenpenha há dezenas de anos um papel importante na vida cultural da capital. Mais de cem pintores e escultores gruparam-se no Núcleo, que regularmente organiza exposições na sua própria casa e desde alguns anos está envolvido no intercâmbio com artistas de outros países.

Cada dia de semana a casa é um vendaval de actividades. Alguns artistas trabalham num espaço coberto, outras estão no quintal ou na relva a pintar e esculpir. Nos edifícios desmoronados num canto extremo do quintal trabalham uns ceramistas. De vez em quando atravessam o quintal caminhando com potes e esculturas para o forno.

Especialmente no fim de semana a exposição permanente é visitada por potenciais compradores, como diplomatas, cooperantes, jornalistas, amantes de arte e homens de negócio.

Na dependência da casa e na esplanada artistas e visitantes podem comer e beber a preços razoáveis. Durante a tarde e o início da noite os membros vêm bater um papo e saber de novidades. Dois artistas/funcionários dirigem o trabalho diário a partir de dois escritórios pequeninos com apoio de alguns colaboradores, um fax/telefone e acompanhados por uma direcção.

 
Núcleo de Arte
 

Ponto de encontro

Ao longo dos anos e principalmente depois da independência do país em 1975, o Núcleo desenvolveu-se para uma instituição de renome. O Núcleo é principalmente um ponto de encontro para as várias gerações de pintores, escultores e ceramistas. Aqui vê-se constantemente uma representação da vida artística de Maputo. Uma apresentação contínua de diversas orientações da arte contemporânea.

Além disso o Núcleo ganhou uma posição como conselheiro do governo. Empresas e instituições à busca de obras de arte passam por aqui. A instituição também está activa em organizar intercâmbios internacionais e workshops.

Artistas podem se encontrar, buscar inspiração nos contactos e discutir. A mistura dos seus membros é a força do Núcleo. Não representa uma orientação, uma "Escola". Não é um colectivo coercivo nem o defensor exclusivo de artistas e arte contemporânea.

O grupo também ficou conhecido pela fama dos seus artistas individuais como Bertina Lopes, Malangatana e Alberto Chissano. Hoje em dia o Núcleo já é a casa da terceira geração de artistas depois da independência.

Os desenvolvimentos do Núcleo e dos seus membros reflictam a história política de Moçambique. O nome Núcleo aparece pela primeira vez em 1937 como título duma exposição no então Lourenço Marques (Maputo) na qual participaram exclusivamente artistas Portugueses. Também a fundação oficial em 1948 foi principalmente um assunto de Portugueses, embora que dentro deles houve pessoas que não simpatizaram nada com o fascismo de Salazar.

Pouco a pouco os artistas Moçambicanos ganharam acesso e começou uma política de apoiar artistas locais. A história mais saliente é a "descoberta" de Malangatana Valente Ngwenya. Ele trabalhava como empregado no clube colonial Lourenço Marques. Valente Malangatana, Nude with FlowersO então presidente do Núcleo, Dr. Augusto Cabral, estimulou o jovem Malangatana, que mais tarde iria ser o padrinho dos pintores Moçambicanos depois do sucesso da sua primeira exposição individual em 1961. Sua obra também exprimiu o nacionalismo que estava a surgir. Quando em 1964 o Núcleo dos Estudantes Africanos organizou uma exposição exclusivamente com obras de artistas Moçambicanos, a polícia segreda (PIDE) intervinha. A exposição bem sucedida com muitas obras de Malangatana foi fechada, porque as obras eram demasiado nacionalistas. A repressão aumentou e Malangatana foi preso acusado de simpatias com a Frelimo e ficou dezoito meses na cadeia.

Depois da independência o nome foi mudado para Centro Organizativo dos Artistas Plásticos (COAP), mas eventualmente o nome Associação Núcleo de Arte foi reinstalado. Só depois da independência o Núcleo podia livrar-se do passado colonial e dedicar-se plenamente ao desenvolvimento da arte moderna Moçambicana. Durante muito tempo os conceitos coloniais de arte tinham dominado e a Arte Africana foi reduzida à artesão. Já nos anos quarenta originaram discussões sobre Arte Africana, a posição dos Africanos, sua relação com Portugal e o Ocidente e a necessidade de reencontrar as raízes Africanos.

O Núcleo e os seus membros individuais até hoje fazem parte deste debate.

Papel na Sociedade

O Núcleo sempre estava no centro da vida da sociedade. Membros foram envolvidos na luta de libertação nacional sob a direcção da Frelimo. Depois da independência espelharam-se pelo país para pintar murais. Os murais, às vezes feitos em colaboração com exilados Chilenos, estudantes e cooperantes, ficaram famosos em todo o mundo. Malangatana teve durante vários anos –até 1985- funções altas no Ministério da Cultura.

O governo levou a cabo uma política cultural activa; arranjou fundos para o Núcleo e buscou possibilidades para artistas de viajar para o exterior. A guerra civil desastrosa e a consequente situação económica difícil também criaram problemas para o Núcleo. O apoio financeiro parou, o intercâmbio internacional foi interrompido e várias vezes a instituição teve que fechar as portas.

No início dos anos noventa isto aconteceu de novo. Desta vez tinha a ver também com um conflito entre gerações. O período de estagnação foi quebrado por um grupo de jovens artistas. Em 1993 eles tomaram a iniciativa de abrir o edifício, pinta-lo por dentro e organizar uma exposição. Foi o sinal para uma nova fase. Os contactos internacionais foram recuperados.

A relação com o exterior, apesar dos problemas do Núcleo, sempre tinha continuado num baixo nível através de artistas individuais. Bertina Lopes era residente na Itália e outros artistas expuseram na Europa. Em 1992 um grupo de artistas participou na Expo Mundial de Sevilla.

A artista Fátima Fernandes organizou em colaboração com a Triangle Art Trust em Londres o primeiro workshop internacional em Maputo, chamado Ujamaa 1. Seria seguido por mais dois, com os nomes de Ujamaa 2 e 3.

Núcleo de Arte

O Núcleo, agora sob uma nova direcção, deu continuidade e organizou em 1995, em colaboração com a Gate Foundation em Amsterdam, o workshop Ujamaa 4. Foram convidados principalmente artistas de países da região. Dois anos depois doze artistas Moçambicanos participaram num workshop em Durban ao convite do Technikon Natal. Ligado a isto a Durban Art Gallery organizou uma apresentação de 32 obras de arte de 27 membros do Núcleo. Foi a primeira grande exposição da arte Moçambicana em África do Sul.

Também as relações com Holanda e Finlanda foram iniciadas ou alargadas. O Núcleo aconselhou o governo sobre a participação de artistas Moçambicanos na Expo ’98 em Lisboa.

Actualmente o Núcleo passa por uma fase florescente; tem organizado vários workshops entre outros um com o tema "Mulheres na Arte" e dois (em 1997 e 1998) com o tema "Armas Transformadas em Arte"; também realizou várias exposições. O relativo isolamento internacional foi quebrado. Alguns doadores como a Hivos na Holanda apoiam financeiramente.

Com mais ou menos êxito o Núcleo trabalha no antigo desejo de atingir e apoiar jovens artistas nas províncias, onde faltam condições e quase não há informação sobre arte.

Em sumo, o Núcleo reconquistou seu lugar como ponto de referência para artistas e amadores da arte.